quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vínculo-limite e Igualdade-diferença

Caros amigos, gostaria de dividir algumas reflexões com vocês... começo, citando dois autores que eu gosto muito para, então, levantar tais questionamentos.

"Esta crise é simultaneamente a crise do vínculo e a crise do limite: uma crise de paradigma, sem dúvida. Crise do vínculo: já não conseguimos discernir o que nos liga ao animal, ao que tem vida, à natureza; crise do limite: já não conseguimos discernir o que deles nos distingue". OST, François. A natureza à margem da lei: a ecologia à prova do direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1995, p. 9.

"... temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza”. SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2008, p. 313.

Ambos os trechos, revelam relações de dominação e subordinação existentes - primeiramente, na relação ser humano-natureza; no segundo caso, entre os próprios seres humanos. Ainda mais, demonstram a lógica de pensamento que se estabeleceu na modernidade: analítica, fragmentadora, hierarquizante, homogeneizante. Trata-se de um projeto de emancipação social (frente à metafísica) que apelou à razão como fonte do conhecimento, submetendo a natureza a esse diferencial do ser humano. Mas, não a qualquer razão! Essencialmente, à razão ocidental, cartesiana, científica, masculina, branca, proprietária - subjugando grupos sociais e conhecimentos não compreendidos nessas categorias.

A minha intenção é lembrar-nos que é o mesmo processo lógico que orienta a formação do conhecimento que possibilita (ainda) a aceitação da exploração da natureza e de certos grupos sociais. A luta pela proteção do meio ambiente e a luta pela reinvenção da emancipação social têm a mesma origem!
Por isso, é no nível paradigmático que devemos buscar uma mudança de visão, que seja dialética ao ponto de compreender os embates descritos pelos autores acima - dentre tantos outros. Um novo paradigma, pautado por uma teoria da complexidade (Edgar Morin), continuamente construído e desconstruído pelo processo de desenvolvimento histórico-natural.

E, para isso, uma nova educação. "Repensar a reforma, reformar o pensamento" (Edgar Morin).



4 comentários:

  1. Será que a emancipação de alguns grupos, que possuem formas diferentes de se relacionar com o ambiente, e que estão entrando e ganhando força na arena política nos últimos 20 anos, seria um indicador dessa mudança de paradigma? Como se muda um paradigma?
    Adorei o texto =)

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  2. Oi Lívia!
    Concordo contigo! Acredito - assim como os autores que eu citei, entre outros - que existe uma mudança de paradigma acontecendo. Sem dúvida nenhuma, é importante que possamos aprender com esses grupos e que os auxiliemos a ganhar voz na esfera pública.

    Para mim, como eu disse, me parece que uma mudança de paradigma é essencialmente realizada através da educação. Entretanto, sem dúvida que, se for possível destacarmos a todas as pessoas a interdependência dessas questões e a relevância de pensarmos de modo distinto, o movimento dialético de transformação será mais intenso. ;)

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  3. Concordo com vocês. A saída é a educação. Das criancinhas, pra começar.

    Abração!

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